Transtorno bipolar: excessos e ponderações

Afinal de contas, o que é esse tal de transtorno bipolar?

Essa pergunta, que aparentemente poderia ser respondida objetivamente, é muito mais complexa do que se possa imaginar.

O que se pode encontrar em manuais sobre o transtorno bipolar: variação brusca de humor sem motivos aparentes, com episódios de mania (agitação intensa, impulsividade, ações em que não se mede as consequências, etc) e depressão (desanimo profundo, falta de energia, abandono dos cuidados de si próprio, letargia, etc).

Há quem acredite que o único e exclusivo fator para a mudança de humor seria o fator ambiental (se está numa festa, ficar feliz, se morreu alguém, ficar triste), como se o interno e o histórico do humano não existisse ou apenas não contasse. Não é esta a minha visão do ser humano. Memória e modos aprendidos ou desenvolvidos pela pessoa para lidar com questões da vida podem ser fatores importantes a serem considerados. Mas principalmente o inconsciente, ou seja, aquilo que não é possível ter acesso de si próprio, mas que dá notícias e tem efeitos, exerce um papel na vida humana que se não for considerado nos mantém no desconhecimento.

Não raro chega alguém em meu consultório com algum sintoma, que é algo que a própria pessoa faz ou que surge nela e que não sabe explicar nem porque nem como surgiu, mas que a afeta. E após algum tempo de análise, indagando, sustentando as interrogações, construindo um percurso, a pessoa (às vezes sem sequer se dar conta) vai mudando. Ora, o que muda, então? Saber mais sobre si? Eis o ponto: numa análise, ao sustentar a interrogação, uma das cousas que acontece é justamente que a pessoa possa explorar outras respostas, construir outros significados ou até mesmo se dar conta de que algo a afetava sem que sequer percebesse o quanto.

Tudo isto para dizer: não acredito em geração espontânea de comportamento, tampouco numa causalidade simplista (tal área do cérebro foi afetada, logo tenho x problema). E aquilo que faz parte da própria pessoa, mas que ela não tem acesso, numa análise, através de sua fala e da escuta do analista que lhe devolverá algo, é possível ir tecendo, desenhando a situação. E isso pode ter efeitos.

Que conflito de forças pode estar se dando internamente para resultar numa situação como a de quem recebe um diagnóstico de bipolaridade? Que fatores emocionais, históricos, estão presentes? Afinal de contas, o que significam estes sintomas e variações todas? Questões a serem sustentadas como questões e desenvolvidas num percurso singular (e por que não dizer esquisito!) esse que é a análise!

Novamente, como em diversos outros lugares deste site eu reafirmo, o auto diagnóstico não é recomendável. Sinais e sintomas por si só dizem pouco (se até entre a gripe e a dengue há confusão, imagine com saúde mental o quanto essa questão é delicada). Para maiores informações, leia aqui.